Apenas 30 das 87 crianças adotadas em 2024 tinham mais de 6 anos, o que corresponde a 34% do total. Nos primeiros oitos meses de 2025, essa porcentagem é ainda menor, com 14 (19%) dos 72 menores acolhidos com essa idade ou mais.
Esses dados evidenciam um cenário delicado: a preferência de candidatos à adoção por crianças mais novas e uma dificuldade de menores com idades mais altas de encontrarem uma família. No momento, o estado tem 1.315 pretendentes habilitados para adotar. Desse total, apenas 232 (17%) aceitam crianças acima de 6 anos.
“A adoção tardia deve ser incentivada, porque crianças com 7,8, 9, 10 anos acabam perdendo a oportunidade de conhecer o carinho de uma mãe, o afeto de um pai, simplesmente por uma questão etária. Muitas pessoas deixam de adotar exatamente pela cultura que ainda impera de querer vivenciar todas as fases existenciais do filho. Mas a criança, com 4, 5, 6 anos, já anseia pelo encontro de uma família”, pontua o Coordenador da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), Desembargador Emílio Salomão Pinto Resedá.
A adoção tardia refere-se ao acolhimento de crianças com três anos ou mais e de crianças e adolescentes com irmãos, com deficiência, com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde.
Enquanto pretendentes optam por crianças mais novas, as mais velhas são maioria na espera de adoção. Atualmente, a Bahia tem 253 meninas e meninos disponíveis para acolhimento, 195 (77%) possuem idade acima de 6 anos.
Um exemplo inspirador da importância da adoção tardia é Antônio José Santos dos Anjos, Presidente do Movimento Além do Acolhimento – coletivo que luta por políticas públicas para a transição à vida autônoma de jovens que vivem em serviços de acolhimento institucional.
O jovem, de 19 anos, integrou a campanha “Filhos São Eternos Bebês”, lançada em 2023 pelo TJBA, que tinha como objetivo promover a adoção tardia de jovens. Graças ao projeto, Antônio foi inserido em uma família e, hoje, é um exemplo do poder de ações voltadas à convivência familiar e comunitária.
“Acredito que minha história pode servir de inspiração para outras crianças e adolescentes que estão no serviço de acolhimento ou que já saíram. Hoje, estou na UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), fazendo o curso de serviço social. Estou com uma passagem garantida para o Canadá, [pois] ganhei uma bolsa de intercâmbio para fazer os dois últimos anos de serviço social no Canadá. Então, hoje me tornei referência e os jovens me veem como referência”, afirmou Antônio.
Na última semana, ele reencontrou o Desembargador Salomão Resedá, responsável pelo projeto do TJBA, durante o 1º Encontro Nacional do Programa Novos Caminhos (PNC), evento realizado, em Brasília, pelo Conselho Nacional de Justiça, para discutir a transição de jovens em acolhimento para vida adulta.