Visando a valorização da cultura e história afro-brasileira, o Auditório Desembargadora Olny Silva, localizado na sede do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), transformou-se em uma sala de cinema, na última quarta-feira (10), para exibição do filme “Malês”. Dirigido por Antônio Pitanga, a obra retrata a maior insurreição de escravizados na história do Brasil, destaca a importância da união entre diferentes povos, tribos e tradições religiosas para o êxito da Revolta dos Malês, bem como a luta pelo fim da escravidão, ambientada na Salvador de 1835.
O Desembargador Lidivaldo Reaiche, Presidente da Comissão Permanente de Igualdade, Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos Humanos (Cidis), lamentou a atuação da Corte baiana durante a rebelião. “O Tribunal da Relação da Bahia julgou todos os envolvidos na Revolta dos Malês que foram presos. Quatro foram condenados a morte, sendo fuzilados no Campo da Pólvora, e dezenas foram açoitados e presos”, relatou.
Aberto ao público, o evento contou com a participação de magistrados, servidores, colaboradores, estagiários e alunos do ensino municipal. Após a exibição do filme, o TJBA promoveu um cine-debate, com a participação do ator Heraldo de Deus, integrante do elenco, e do assistente social Anailton dos Anjos. As discussões foram mediadas pelo Desembargador Lidivaldo.


Durante a conversa, analisaram fatos históricos retratados no filme, refletiram criticamente sobre a independência e formação cultural brasileira e destacaram a resistência e complexidade da vida de pessoas negras escravizadas e alforriadas na época.
“Malês é um filme que repensa a situação do povo brasileiro em geral, é um filme que remonta o período colonial, mas tem uma reflexão muito atual sobre a justiça no país”, pontuou Heraldo.
Conforme relata o presidente da Cidis, o Tribunal baiano tem trabalhado no sentido de preservar os documentos relativos aos processos ligados à revolta. “Nós temos trabalhado muito com a história, temos uma Comissão de Memória e os autos dos processos de todas essas revoltas foram conservados e estão no arquivo público do Estado da Bahia; nós editamos o livro ‘Os julgamentos e os fatos históricos do Tribunal da Relação do Brasil’, que fala sobre a ritualística processual de importantes eventos históricos e serve de fonte de pesquisa para historiadores”, contou o magistrado.

A exibição do filme fez parte das atividades realizadas pelo TJBA, por meio da Cidis, no contexto do Novembro Negro. A iniciativa é voltada à valorização da memória, da cultura e da história afro-brasileira, além de evidenciar que o combate à discriminação e o fomento da igualdade racial deve acontecer de modo contínuo, durante todo o ano.
Outras ações – A programação teve início com a exposição Fragmentos de Memória, instalada no átrio do TJBA, que utilizou documentos históricos com descrições de pessoas escravizadas para reconstruir suas imagens como se fossem fotografias, utilizando a Inteligência Artificial (IA). A programação segue hoje (16), com a realização da 2ª edição do Prêmio Luiz Gama, que fará a entrega da medalha à instituição homenageada de 2025, o Instituto Cultural Steve Biko.
Além da premiação, a cerimônia contará com novas descobertas sobre a vida de Luiz Gama, resultantes de estudos conduzidos no Arquivo Público da Bahia pela pesquisadora Lisa Earl Castillo, apresentação do Coral do TJBA, e a dramatização de uma cena do espetáculo “A Cor do Julgamento”, encenada pelo grupo teatral estudantil Rábulas, formado por alunos da Escola Municipal São Domingos Sávio.