Um dia, num jardim florido, nasceu uma rosa. Essa rosa cresceu, tomou corpo e gerou outras rosas no horto da vida. Essa rosa era minha mãe, que perfumou minha vida com a fragrância de sua nobreza. Segundo os poetas, as mães não têm limites, pois são e serão, sempre, um tempo sem horas. Em nossos corações elas se tornam eterna, como uma chama que não se apaga, mesmo ao sopro dos ventos. A humanidade se renova no seu ventre, pois nele reside a plenitude da vida.
Quando uma mãe nos deixa para ocupar o seu lugar no céu, as saudades se multiplicam. Mesmo assim ficam as lembranças. E ainda que as transformações sociais modifiquem nossos pensamentos, nossos sentimentos nunca mudam, pois a mãe é um exemplo de amor eterno, sempre lutando pelos filhos, sem jamais se curvar diante das dificuldades.
A vida nos ensina que nada é eterno; que tudo muda com o passar do tempo, menos a lembrança de uma mãe, que permanece em seus ciclos. Ser mãe é carregar no corpo o dom da criação e, no coração, o amor que fortalece. É ter a capacidade incondicional de amar os filhos e viver para eles. Espirito indomável e incansável, jamais lamenta a exaustão da luta, sacrificando-se pelos filhos sem nada exigir em troca.
Hoje que não a tenho, gostaria que ela soubesse que meu coração sempre lhe pertenceu. Pela constância do seu amor soube enriquecer-se com a felicidade daqueles que sempre amou, suavizando todas as dores. O amor de uma mãe persiste pela vida inteira, comportando um devotamento e uma abnegação que são exemplos de virtudes, sobrevivendo mesmo à morte. É uma forma de negação de si mesmo para uma autodoação plenificadora.
Minha mãe Aneci Miranda Castelo Branco nasceu em Aparecida, atualmente Bertolínia, em 20/08/1922, e faleceu no Hospital Itacor, com 98 anos, em Teresina, capital do Piauí, em 24/07/2021. Sepultada no Jardim da Ressurreição, em Teresina, de lá ressuscitará para a vida eterna. Casada com Antônio João Saraiva, o casal teve dez filhos, entre os quais este escriba, hoje desembargador do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
Segundo os registros constantes no livro “Memorias dos Ancestrais (Parentes e Contraparentes: Uma Genealogia do Sertão)”, do acadêmico Reginaldo Miranda da Silva, da Academia Piauiense de Letras, um dos meus ancestrais, meu avô Tenente José Martins Castelo Branco, era devoto de Nossa Senhora, e rezava todas as noites uma oração poderosa: “O Sonho de Nossa Senhora”. Conta-se que a pessoa que tem essa devoção será avisada da sua morte três dias antes de ela acontecer. Então, quando ele foi avisado através do sonho de Nossa Senhora, mandou um recado para minha mãe Aneci, pois queria falar com ela. Ao comparecer perante o pai, ele pediu-lhe para que cantasse o canto muito conhecido na cidade, o “Divino”, pois ele queria partir em paz, contrito e rezando.
Minha mãe assim o fez. Colocou uma vela nas mãos dele e rezou, até o seu último suspiro. Meu avô Tenente José Martins Castelo Branco, morreu com 96 anos, de morte natural. Ele morreu num dia de sábado, pois, ao que se diz, a pessoa que faz essa devoção com Nossa Senhora, além de ser avisada com três dias de antecedência de sua partida, morre em dia de sábado e de morte natural. Minha mãe, que também era devota de Nossa Senhora e sempre rezou essa oração. Cumprindo a promessa divina, ela também veio a falecer num dia de sábado.
Com certeza ela vai renascer, pois ela é como um rio, que segue seu trajeto antes de encontrar o mar. Sua alma percorre os caminhos do céu atravessando diversas etapas, antes de encontrar o oceano eterno da paz. Para os cristãos, a morte é um sopro inovador rumo à eternidade. Agradeço as mensagens dos amigos recolhendo-me ao grande silêncio da simpatia e da gratidão.
Toda a vida é a repetição de vários atos. É como se fosse uma peça de teatro, que não permite ensaios, mas exige que se viva intensamente, como viveu minha mãe Aneci, que quando findou o seu último ato, com quase 99 anos, subiu aos céus sob aplausos.
*Baltazar Miranda Saraiva, desembargador do Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA), vice-presidente da Comissão Permanente de Segurança do TJBA, membro do Conselho da Magistratura do TJBA, da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), da Sociedade Amigos da Marinha (SOAMAR), Membro substituto do TRE/BA, Classe dos desembargadores, além de vice-presidente Social, Cultural e Esportivo da Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (ANAMAGES).